GERÚNDIO E GERUNDISMO
GERÚNDIO é uma forma verbal conhecida como forma nominal do verbo, como o infinitivo e o particípio. Essa forma nominal pode e deve ser usada para expressar uma ação em curso ou uma ação simultânea a outra, ou para exprimir a idéia de progressão indefinida. Combinado com os verbos auxiliares ESTAR, ANDAR, IR, VIR, o gerúndio marca uma ação durativa, com aspectos diferenciados:
1) o verbo ESTAR seguido de gerúndio marca uma ação durativa num momento rigoroso:
Estavam todos dormindo.
Estavam todos brincando.(ações durativas em momentos passados)
Estão todos dormindo.
Enquanto as crianças estão brincando, eu estou fazendo o jantar. (ações simultâneas)
Aproveito para molhar as plantas, já que agora ninguém está passeando pelo jardim. (ações durativas que acontecem agora – dormindo; brincando/fazendo; ninguém está passeando)
Molharei as plantas amanhã à tarde, já que nesse horário ninguém estará passeando pelo jardim. (ação durativa que terá seu curso num momento determinado do futuro)
2) o verbo ANDAR seguido de gerúndio indica uma ação durativa em que predomina a idéia de intensidade ou de movimento reiterado:
José Carlos andava acordando sem entusiasmo.
Andei buscando uma alternativa melhor para esse dia.
O país agora anda vivendo dias de incerteza quanto ao futuro político.
Vocês andam fazendo muito mistério para dar a notícia......
3) O verbo IR seguido de gerúndio expressa uma ação durativa que se realiza progressivamente ou por etapas sucessivas:
Chamas de alegria e contentamento vão raiando em seu rosto.
Vão-se acendendo as estrelas uma a uma, a cada anoitecer.
As crianças, em fila, vão marchando e vão cantando.
Vou cantando baixinho até que o bebê durma.
Nós vamos entrando devagar, para que ele não acorde.
4) VIR, seguido de gerúndio, expressa uma ação durativa que se desenvolve gradualmente em direção à época ou ao lugar em que nos encontramos:
A luz de um novo dia vem chegando devagar.
Os ruídos da tempestade vêm crescendo até se tornarem assustadoramente próximos.
Já há muito tempo eu venho avisando sobre o risco de um desabamento. (ação durativa que continua acontecendo até o presente)
Já há muito tempo nós vínhamos avisando sobre o risco de um desabamento. Agora, aconteceu. (ação durativa que aconteceu gradualmente até um passado próximo)
A velhice virá chegando devagar, silenciosa, e de repente ocupará o centro das suas preocupações. (ação durativa cujo desenrolar será gradual, num futuro em relação ao momento presente)
.......Você PODE ESTAR RESPONDENDO a duas ou três perguntas ? ( ficar respondendo até quando ?... )
....... Eu VOU ESTAR CONFIRMANDO os dados. ( e quando essa ação terá fim ? quando os dados estarão efetivamente confirmados ? )
.......Sua conta-corrente ESTARÁ SENDO DEBITADA. ( indefinidamente ? )
Diferente do gerúndio, o “gerundismo” é essa maneira de falar e de escrever que está castigando duramente a Língua Portuguesa. É um vício de linguagem que vem do inglês e que não encontra respaldo gramatical em nossa língua. Tem a pretensão de indicar futuro; no entanto traz escondida, na verdade, a ideia de uma ação que será indefinidamente protelada, uma ação que nunca chegará ao fim. Há duas maneiras de formar o futuro em nosso idioma:
Futuro simples (cantarei, dormirei, obedecerei, estarei, farei) ou Futuro composto, formado pelo presente do verbo IR (auxiliar) e pelo infinitivo do verbo principal (vou cantar, vou dormir, vou obedecer, vou estar, vou fazer).
Portanto, gerúndio é forma verbal válida e correta com função de indicar uma ação ainda em curso no momento presente, para indicar ações simultâneas, para exprimir ideia de progressão, de intensidade, de continuidade e para indicar ações durativas nos três tempos verbais.
Se não houver ideia de ação gradual, progressiva ou continuada não use gerúndio. Adote como regra usar o futuro simples (adotarei) ou o futuro composto (vou adotar).
Na dúvida, siga o exemplo dos portugueses, que usam o infinitivo no lugar do gerúndio: no lugar de estou falando, usam estou a falar; no lugar de estou ouvindo, usam estou a ouvir.
As frases dos exemplos acima, numa linguagem coloquial, no entanto correta, ficariam assim:
.....Você PODE RESPONDER a duas ou três perguntas ? (ou: poderia responder) - ação objetiva, com fim determinado
......Eu VOU CONFIRMAR os dados. (ou: confirmarei) - ação objetiva
......Sua conta-corrente VAI SER DEBITADA. (ou: será debitada) - ação objetiva
Essas são ações nas quais não há ideia de progressão, nem de simultaneidade, nem de algo que vai se desenrolar gradual e repetidamente. São ações que têm começo e fim definidos, num momento determinado, que não ocorrem simultaneamente a outras e que não expressam nenhuma ideia de continuidade. Compare com as mesmas frases escritas anteriormente e será fácil perceber a diferença.
Maria Carmen Gomes Silveira
Fontes de consulta:
CUNHA, Celso e CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
SQUARISI, Dad. Dicas de Português. Colunas publicadas no Jornal Estado de Minas. Várias datas.
SQUARISI, Dad. Dicas de Português. Colunas publicadas no Jornal Estado de Minas. Várias datas.
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